segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Islamismo e xamanismo
Em El secreto de Muhammad: la experiencia chamánica del Profeta del Islam, de Abdelmumin Aya, é um dos livros mais interessantes que li recentemente. O autor está fundamentado, em praticamente toda sua análise, nos estudos do grandes historiador da religião Mircea Eliade. Quem já leu O xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase, em boa tradução pela Martins Fontes, e conhece um pouco da vida do Profeta Muhammad (sas), já teria alguma ideia do que o autor trataria. Entretanto, as relações estabelecidas me surpreenderam.
Como pressuposto do autor, não é possível compreender o Islã sem compreender a vida de Muhammad (sas). A experiência pela qual o Mensageiro de Deus passou estabelece os princípios para uma comunidade que passou a existir após essa experiência. À diferença dos xamãs, o Profeta propagou sua experiência; não resolveu curar ou orientar somente sua comunidade, mas também toda a humanidade.
Passando por episódio sobre a abertura do peito, a Viagem Noturna, a transmissão de sua baraka (benção), considerando as hipóteses de loucura e as leituras Ocidentais, Abelmumin Aya nos traz mais elementos para perceber o quanto o Islã é uma religião universal, aberta para todas as formas e que contempla todas as espiritualidades tradicionais.
Como o autor relata, Buda no ensinou a não sofrer. Jesus (as) nos ensinou a amar os outros. Enquanto isso, Muhammad (sas) nos ensinou o auto-controle. Não estamos dizendo que um é superior ao outro, mas que a experiência do Profeta (sas), em relação aos demais mensageiros de Deus, é extremamente particular.
Dentre o quadro sintético apresentado pelo autor, temos os seguintes elementos presentes na experiência xamânica de Muhammad (sas) (segue abaixo uma tradução desses quadro - localizado na página 147):
Elemento 1: O mensageiro alado.
Elemento 2: Violência dos mensageiros celestes.
Elemento 3: A abertura do peito.
Elemento 4: O mesmo xamã, testemunha da operação.
Elemento 5: A extração das vísceras.
Elemento 6: O coração como víscera tocada.
Elemento 7: O fechamento da ferida.
Elemento 8: As visões da luz interior.
Elemento 9: As dores de cabeça.
Elemento 10: A cova como lugar de encontro.
Elemento 11: O sonho como momento propício.
Elemento 12: O calor místico durante o transe.
Elemento 13: A destruição do mundo.
Elemento 14: Os mortos saem da tumba.
Elemento 15: A passagem pela ponte do horror.
Elemento 16: O centro do mundo.
Elemento 17: A ascensão na montanha.
Elemento 18: A cavalgadura alada.
Elemento 19: Um guia pelo desconhecido.
Elemento 20: A água da vida.
Elemento 21: Uma descrição das regiões beatíficas.
Elemento 22: A Árvore do Centro.
Elemento 23: A alma como pássaro.
Elemento 24: As esposas celestes.
Elemento 25: O descenso aos infernos.
Antes de apresentar tais elementos, o autor os aborda detalhadamente. Cada um desses elementos estão presentes nas tradições do Preofeta (sas), bem como nas ações dos xamãs ao redor do globo. Não deve ser negado o caráter de xamã a Muhammad (sas): isso em nada invalida seu caráter de Profeta. Entretanto, nem todo xamã é um Profeta...
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AYA, Abdelmumin. El secreto de Muhammad: la experiencia chamánica del Profeta del Islam. Kairós: Barcelona, 2006
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