sexta-feira, 17 de maio de 2013

Yoga e Islam



Rajaque Rahman, um muçulmano praticante, fala como interpretações distorcidas do que é permitido e do que é proibido no Islam está deixando o mundo muçulmano exitante em tirar vantagem de práticas terapêuticas universais como o yoga e a meditação.

Mesmo tentando convencer um grupo de idosos muçulmanos em Itanagar - a capital do estado indiano mais ao Oriente de Arunachal Pradesh - a dar uma chance ao yoga, pranayama e técnicas ancestrais indianas para a saúde e uma vida feliz, tal grupo segue serenamente para a Jumuah (oração congregacional de sexta-feira) na mesquita do bairro após o chamado para a oração. Seguindo-os até a mesquita, percebi que um senhor, o mais eloquente e ortodoxo durante as discussões, dirigiu-se ao lado oposto. Quando questionei porque ele não seguiria para a oração, fiquei severamente atordoado por sua inocente, mas distorcida, lógica: "Eu não posso ir à mesquita por ter que passar próximo a vendas que abatem e vendem carne de porco para chegar até lá. Você sabe, o Islam proíbe terminantemente a carne suína. Eu preferiria perder a oração do que cometer o pecado de passar próximo à carne suína", ele argumentou.

Sabendo que o Islam proíbe comer carne suína, nunca havia me ocorrido que alguém poderia interpretar essa proibição de uma maneira tão míope. Ponderando sobre isso, percebi que esse tipo de interpretação "capenga" daquilo que é permitido ou proibido no Islam é o que estava deixando o mundo muçulmano hesitante em aproveitar-se de terapias universais como o yoga e a meditação.

Como o velho senhor,  muçulmanos ortodoxos temem que a prática do yoga corroam sua fé em Allah e no Islam. Uma vez que o Alcorão e as tradições do Profeta Muhammad não especificam se a prática do yoga é proibida, estes muçulmanos baseiam seus julgamentos em seus medos cultivados de que supostamente os elementos Hindus do yoga destruiriam a fé do muçulmano.

Enquanto muçulmano que vem praticando o yoga a mais de uma década e que experimentou a profundidade física e espiritual dos níveis do yoga, sinto que o melhor caminho para afastar esse medo é observar a filosofia Hindu sobre o yoga e entendermos como e onde contradizem os fundamentos islâmicos. Para isso, não me baseio em nada menos do que a autenticidade dos Sutras yogis de Maharishi Patanjali. Sri Sri Ravi Shankar, fundador do Art of living, forneceu-nos um lúcido e extenso comentário sobre os Sutras yogis.

Yoga significa simplesmente unir-se ao Si-mesmo. Os Sutras yogis iniciam clamando serem, eles próprios, uma enunciação dessa união, sendo a disciplina auto-imposta para atingir essa união o próprio yoga. Seria tal esforço para unir-se ao Si-mesmo algo contra o Islam? Definitivamente não, pois o Profeta Muhammad disse que "Aquele que conhece a Si-mesmo conhece seu Senhor." Assim, qualquer coisa que seja feita com o objetivo de atingir ao Senhor não pode ser temido como proibido pelo Islam. Ao invés disso, isso contaria como um ato meritório por honrar e seguir o caminho do Profeta. Assim, o yoga como um caminho espiritual é bem permitido no Islam. Dara Shikoh, o filho mais velho do Imperador da Índia, Shah Jahan, é bem conhecido por suas traduções para o persa do Yoga Vashishta e do Bhagavad Gita.

A melhor explicação do porque o yoga não é somente algo permitido mas, inclusive, um ato desejável para os muçulmanos, é encontrada no segundo sutra dos Sutras yogis: "Yogas Chitta Vritti Nirodhah.” Isto é, o yoga irá encerrar todas as modulações da mente. Cessar todas as atividades externas da mente e repousá-la sobre Allah é a meta última do Islam. Assim, qualquer ato feito para atingir tal objetivo não pode ser entendido como anti-islâmico.

De fato, ele representa a mais alta forma de ibaadat (oração). O Profeta Muhammad disse "Eu tenho meu tempo com Deus que nem mesmo Gabriel, que é puro espírito, é admitido." Assim, se a alma da oração é a completa absorção, um estado sem espaço para preocupações externas, o yoga teria o mesmo objetivo. Deste modo, praticar os asanas do yoga com a única intenção de atingir um estado sem pensamentos pelo qual alguém pode se conectar com Allah não fará de alguém um mal muçulmano.

Tais considerações deixam espaço para uma única concepção para os mullahs ortodoxos rejeitarem o yoga: sua origem nas crenças politeístas do Hinduísmo. Mas se yoga significa união, como poderia estar vinculado às crenças politeístas? De fato, o yoga afasta do politeísmo na medida em que conduz à Advaita, que está de acordo com a doutrina islâmica do tauhid (unicidade de Deus).

Só porque algo tem suas raízes no Hinduísmo, isso não torna algo proibido para os muçulmanos. Se fosse assim, muitas artes, línguas, alimentos e práticas culturais com raízes em outras religiões deveriam ser proibidas para os muçulmanos. Assim, se podemos aceitar comidas e músicas de outras culturas, por que não a sabedoria para unir-se com Si-mesmo?

[extraído de http://artoflivingsblog.com/yoga-the-highest-form-of-ibaadat-prayer-2/ - Tradução pra fins de divulgação por Muhammad F.; todos os Direitos da tradução cedidos para os autores do texto original.]

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